domingo, 7 de março de 2010

DEMÓCRITO DE SOUZA FILHO

Maria do Carmo Andrade
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br


Quando o moço trouxe aos dedos palavras de uma oração com bala cravada à fonte seu corpo prostrou-se ao chão, já colocado entre as rosas vermelhas da pulsação.
Audálio Alves


Demócrito de Souza Filho, filho de Demócrito de Souza e Maria Cristina Tasso de Souza, estudante de Direito, mártir na luta pela redemocratização do Brasil, tornou-se símbolo de uma geração. Descendente de ilustre família pernambucana, mas que encontrou na gente do povo seus melhores amigos.

Seu pai e seus tios, José de Brito Alves e Caetano Galhardo, eram advogados criminais militantes, daí porque Demócrito familiarizou-se desde cedo com o sentido das palavras direito, justiça, liberdade, habeas corpus e constituição.

(...)

Quando entrou na Faculdade de Direito do Recife, em 1941, já trazia consigo plantadas as sementes da justiça e da luta pela liberdade. Nessa época, o mundo estava vivendo a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, imperava o Estado Novo, regime implantado por Getúlio Vargas após o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937. Nessa ocasião, o presidente fechou o Congresso Nacional e outorgou uma nova Constituição. Todos os poderes foram abolidos, as liberdades individuais suspensas e os Estados submetidos a interventores nomeados pelo presidente. O Estado Novo caracterizou-se por ser um Estado policial e de censura, porém, paralelamente, imprimiu novos rumos ao desenvolvimento econômico do País e assumiu a posição de um Estado Nacional. Demócrito era um dos corajosos estudantes empenhados na luta pela redemocratização do País.

O ano de 1944 marca o início da campanha em Pernambuco pela redemocratização do País. Ela nasceu dentro da Faculdade de Direito do Recife. Seu ponto de partida foi uma disputa eleitoral pela presidência do Diretório Acadêmico. Uma ala dita comunista perdeu as eleições para a ala denominada de renovadora.

(...)

À medida que o Exército Alemão recuava na África e na Europa, crescia o entusiasmo dos estudantes de Direito nas suas manifestações de repulsa ao Estado Novo. Para comemorar a tomada de Roma pelos exércitos aliados (1944), realizou-se no salão nobre da Faculdade de Direito do Recife uma sessão extraordinária, que seria a primeira manifestação pública contra o Estado Novo, efetuada em Pernambuco.

No dia 7 de setembro de 1944, as autoridades policiais resolveram reagir prendendo intelectuais, professores, estudantes e dentre estes, o acadêmico Demócrito. Os presos readquiriram a liberdade no dia 11 de setembro de 1944. A polícia civil continuou com outras formas de intimidação.

Acompanhavam todos os passos dos estudantes, alguns eram mais visados, como era o caso de Demócrito de Souza Filho, sempre seguido por um agente da polícia, conhecido por Alemão.

Na véspera do 3 de março de 1945, à noite, estudantes se refugiaram na redação e nas oficinas do jornal Diario de Pernambuco, depois de um incidente no restaurante “Lero-Lero”, por causa de um retrato oficial de Getúlio Vargas, retirado da parede e rasgado pelos estudantes Demócrito de Souza Filho e Jorge Carneiro da Cunha, que distribuíram os pedaços da fotografia entre os colegas presentes.

Em poucos minutos a Praça da Independência estava cercada pelos agentes da polícia civil. Os estudantes não foram presos porque o delegado de polícia logo chegou ao local e mandou que os policiais se afastassem dali.

Os estudantes de Direito haviam anunciado para a tarde do dia 3 de março de 1945, um comício em frente à Faculdade, em favor da candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes à Presidência da República e uma passeata que terminaria na Praça da Independência, onde prestariam uma homenagem ao Diario de Pernambuco, grande aliado na luta pela redemocratização do País.

Quando os integrantes da passeata se concentraram em frente ao prédio do Diario de Pernambuco, o estudante Odilon Ribeiro Coutinho iniciou seu discurso de exaltação ao jornal.

Nessa ocasião surgiram na Praça da Independência os primeiros disparos de arma de fogo efetuados pelos falsos trabalhistas que estavam no meio do povo. Houve correrias, dispersando-se boa parte da multidão, mas depois reagruparam-se os estudantes e o povo para ouvir os oradores que falariam da sacada do primeiro andar do edifício do Diario. Duma das sacadas, Gilberto Freyre começa a falar, mas teve seu discurso interrompido à bala. Foi nesse momento que o estudante Demócrito de Souza Filho cambaleou na sacada e caiu no primeiro andar do Diario de Pernambuco, na sala de redação, apresentando um ferimento na testa produzido, por arma de fogo.

Demócrito foi socorrido, mas morreu às 20h50 do dia 3 de março de 1945, no antigo Hospital do Pronto Socorro do Recife

Recife, 26 de julho de 2004.
(Atualizado em 9 de setembro de 2009).

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